Um dia de marolas em Regência, ES. Céu lavado, vento terral forte, água gelada. A Airdrop Culture encostou por lá para acompanhar Ícaro Lasas num treino raro entre uma competição e outra.
As lentes de Bernardo Martins Xavier e Thiago Souza registraram tudo: textura de espuma, o peso do silêncio antes do drop, a calma de quem já viveu demais para se apressar.
Não era só treino.
Era Ícaro voltando ao ponto onde o mar e a vida se encontram na mesma frequência.
Ícaro virou destaque real no parasurf brasileiro, não pelo hype, mas pela firmeza, versatilidade e um progresso absurdo em pouco tempo de esporte competitivo.
Vindo da Praia de Carapebus, Serra–ES, ele leva para o surf adaptado a mesma energia que carrega para o VAA, para a canoa havaiana e para os projetos culturais e ambientais que abraça.
Com 36 anos, Ícaro é prova viva de que esporte não é só performance, é direção, respiro e identidade dentro e fora da água.
A virada, quando o mar voltou a caber na vida
A história de Ícaro não começa nos pódios. Começa no renascimento.
Depois do acidente automobilístico que resultou na amputação da perna direita, ele mergulhou num processo de reabilitação intenso, duro e cheio de pequenas vitórias diárias.
Foi ali que a ideia que guia sua vida tomou forma:
“Plantei coisas boas, tropecei por vezes e aprendi com as dificuldades a me tornar forte e determinado.”
O esporte foi a ponte.
O mar, a cura.
Linha do tempo, a ascensão de um para-atleta brasileiro
2021 — Renascimento
- Reabilitação, força construída centímetro por centímetro, recuperação da confiança.
- Primeiro contato real com o movimento como ferramenta de vida.
2022 — O retorno à água
- Volta ao mar. Tira o medo da frente. Natação, pedal, mar aberto.
- Primeiro troféu.
- Primeiras braçadas no surf adaptado e no VAA.
- Primeiras conexões com a comunidade adaptada.
2023 — Estrada aberta
- Evolução no surf, primeira seletiva nacional de parasurf.
- Consolidação no VAA:
- Seis títulos estaduais nas categorias V1, V2R e OC6.
- 5º lugar na seletiva nacional de parasurf.Ano de técnica, mas também de impacto humano.
2024 — Ascensão
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Campeão brasileiro de surf adaptado — CBSurf
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Campeão brasileiro de VAA — V1 e V3
Participação em projetos, podcasts, rodas de conversa.
Ícaro vira referência.
2025 — Expansão
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Vice-campeão brasileiro de parasurf (Kneel)
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Segundo lugar como leme da equipe de deficientes visuais, garantindo vaga no Mundial
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5º lugar no Mundial em agosto
Ano estratégico, sólido, de crescimento interno e externo.
A visita a Regência foi mais que um rolê de surf.
Foi sobre registrar um fenômeno cultural.
Ícaro é mais que atleta: é conector de mundos, inclusão, mar, educação ambiental, esporte adaptado e criatividade.
Ele materializa o espírito que a AirdropCulture busca amplificar: histórias que nascem de chão de areia, mas viram impacto coletivo.
Surf como linguagem.
Cultura como Princípio.
O dia em Regência terminou com o mar mais calmo, mas a mensagem ficou nítida: o parasurf cresce quando atletas como Ícaro têm estrutura, visibilidade e condições reais de treinar e competir.
A modalidade ainda enfrenta desafios, desde a falta de investimento contínuo até a dificuldade de logística, equipamentos específicos e recursos básicos para viagens e preparação técnica.
Ícaro representa exatamente o tipo de atleta que sustenta esse ecossistema: disciplinado, dedicado e com um impacto que ultrapassa o esporte. Seu progresso rápido, sua atuação em múltiplas frentes e sua capacidade de inspirar mostram o potencial gigante que o parasurf tem no Brasil.
Apoiar atletas assim não é só financiar resultados.
É fortalecer inclusão, diversidade, inovação e novas narrativas dentro do esporte brasileiro.
É garantir que talentos com histórias de superação, resiliência e propósito, como a de Ícaro sigam abrindo caminho para uma geração inteira que vê no mar não um limite, mas uma possibilidade.
O parasurf precisa desses corpos comprometidos, dessas vozes e dessas presenças.
E Ícaro, em cada treino, cada campeonato e cada projeto social, prova diariamente que performance técnica e transformação humana podem andar na mesma prancha.


